17/09/2007

Medeia - o caminho que leva ao início

Medeia

Medeia é uma criação multidisciplinar concebida para uma performer e um músico. Inspirada na tragédia euripidiana homónima, este projecto engloba três partituras distintas que se cruzam, interagem e desenvolvem conjuntamente, a actuação, a música e a instalação espacial. Num espaço caracterizado pelo despojamento de elementos, num quase deserto inicial, estendem-se sobre um linóleo circular, montículos de areia que vão sendo intervencionados na dinâmica da acção, pela performer. Ele é, tal como o corpo e a música, matéria moldável e dialogante com o universo dramaturgico dos comportamentos e da música, é território da proxémica das personagens, das tensões relacionais.

Uma teia de acções físicas de comportamentos viscerais inspirados em alguns momentos da vida de Medeia resultam num desenho poético que aqui se vai também prolongando em explorações vocais variadas. O corpo e o espaço enquanto instrumentos vibratórios e ressoantes por excelência - constituem parte da partitura sonora desta performance, onde a acção per si, e /ou em diálogo com a guitarra, tem uma forte componente rítmica, melódica e vocal, sendo que a voz é encarada como uma extensão, um prolongamento do corpo e dos comportamentos que lhe estão inerentes.

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Apresentações 2006: . 2 a 7 de Outubro - Estarreja - aTelier . 30 de Outubro - Aveiro - Mercado Negro . 23 e 25 de Novembro - Aveiro - Galeria Verarte . 13 a 16 de Dezembro - Aveiro - Estaleiro Teatral
__________________________________________________________ um esclarecimento final

Poderia esclarecer acerca do desenho comportamental, da actuação assente na metodologia das acções psicofísicas, da Medeia e da sua estória de amor transvazante, do infanticídio… mas vou falar sobre chuva de sangue, sobre tirar o coração, sobre dança das flores, sobre máquina de soldar, sobre amparo ou último abraço, sobre velho da esperança, sobre velha do canto, sobre é meu, sobre cão a beijar, sobre não me deixes aqui sozinha, sobre vô busscaas cossáá té, sobre ruptura, sobre assumpquéaqui, sobre tirar os olhos pra ti, sobre xixa e os pêlos, sobre vôlhê, sobre és capaz de vir aqui, sobre aranha, sobre roda da inveja, sobre era rô di arrô, sobre choro uai, sobre esperança – 1ª parte beijo, sobre fruta, sobre fila, sobre sufoco, sobre estou farta. São os títulos das notas do meu caderno de apontamentos, cada um refere-se a uma acção/motivação específica e no seu todo referem-se ao sujeito que ama e é amado / ao sujeito que ama e não é amado (destroçado).

Poderia falar da circularidade do espaço, de um espaço sem cantos, aberto para todos os lados, do despojamento de elementos, de uns montículos de areia que são intervencionados pela dinâmica da acção e que são tal como o corpo e a música, matéria moldável. Poderia falar das construções e desconstruções permanentes, das pequenas esculturas que se substituem a objectos, a seres… que, ora nascem ou desaparecem de uma acção consciente e planeada, ora são apenas testemunhos, memória, receptáculo das marcas dos corpos que acolhem. Poderia falar dos quatro poisos de Jasão, e do simbolismos das suas alturas, do pedestal e da rampa de saída, e dos blocos intermédios de semi-conforto e desconforto e da relação destes poisos e da sua ocupação com a relação com Medeia… mas vou apenas dizer que tal como a areia o meu coração é fragmentado, ora se reúne em partes e ama totalmente, ora cheio de marcas (pisadas) e cicatrizes, se parte, espalha e esvai. Helena Botto

fotos : dr.z
Ficha artística: co-criação: helena botto e joaquim pavão concepção, espaço, dramaturgia e performance: helena botto composição musical original e interpretação: joaquim pavão desenho de luzes: emanuel pina desenho das estruturas: gil moreira figurinos: mariana moreira fotografia: dr.z design gráfico: pedro capão co-produção: acto.instituto de arte dramática agradecimentos: josé filipe pereira, elitza pavão, cine-clube de avanca __________________________________________________________

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